Existem muitas pessoas que não comem por prazer. Não quero falar dos que comem apenas o que conseguem para matar a fome. Gostaria de lembrar aqueles que comem quase compulsivamente. Existem muitas teorias para explicar esse fenômeno de comer sem necessidade, porém, a mais antiga e sólida se baseia na nossa origem, isto é, quando éramos seres humanos primitivos. À época, tínhamos que caçar, matar, extrair, consumir e se possível guardar. Porém a conservação dos alimentos era muito complicada. Com o tempo usou-se o sal, a gordura, a defumação. Mas, os alimentos guardados se perdiam. Criou-se, provavelmente, uma ansiedade pelo dia de amanhã; o medo de não haver o que ser comido no futuro próximo. Essa ansiedade, em teoria, permanece dentro de cada um de nós. Daí, talvez, essa compulsão, maior ou menor, de se comer o máximo hoje. Porém, energia em excesso se deposita em nosso corpo em forma de gordura. É energia de reserva que deverá ser usada em dias de jejum. A gordura só será depositada se comermos além do necessário. Se comermos a menos, a gordura, energia em depósito, será consumida lentamente, à medida da necessidade biológica de manutenção da vida. Somente o necessário! Daí, o perder peso lentamente.
Muitos são quase doentes. Comem sempre o que tiver à disposição, como se amanhã não fosse ter o que comer. Haverá prazer ao se comer compulsivamente? Provavelmente, sim. A ansiedade será diminuída e isso causa prazer.
Porém, comer e beber com prazer é prestar atenção nas diversas nuances de aromas e sabores. É sentir a untuosidade das gorduras, o frescor das frutas, o aroma dos temperos, o tanino e os sabores do vinho. Quem está com pressa não fará isso. Os americanos cunharam uma expressão clássica: “for a moment on the lips, forever on the hips”, isto é, por um momento nos lábios, para sempre nos quadris. Comer e beber com prazer não é comer muito, nem depressa. É comer com prazer!

DR. JOAQUIM M. SPADONI, Mestre em Nutrição e Cirurgia.